segunda-feira, 2 de julho de 2012

D I R E I T O À C U LT U R A: Planejando atividade


                      in http://www.projetomemoria.art.br/JoaoCandido/downloads/down_guia_JC_site.pdf

Como mostra o Almanaque, mesmo vivendo em condições precárias, João Cândido alfabetizou-se e tornou-se leitor e sempre muito interessado em acompanhar os acontecimentos que se desenrolavam a sua volta.
As atividades sugeridas permitem que variados aspectos da cultura sejam abordados: a importância da cultura oral da comunidade; da reflexão; do desenvolvimento do senso crítico, inclusive em relação aos meios de comunicação, etc.

  A. T E M A S
Diferentes culturas, diferentes linguagens
Meios de comunicação

A Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, proclamada pela UNESCO em 2002, estabelece, no Artigo 5º, que toda pessoa deve poder expressar-se, criar e difundir suas obras na língua que deseje e, em particular, na sua língua materna; toda pessoa tem o direito a uma educação e uma formação de qualidade que respeite plenamente sua identidade cultural; toda pessoa deve poder participar na vida cultural que escolha e exercer suas próprias práticas culturais, dentro dos limites que impõe o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais.

Alunos que não sabem ler
Em 2008, o Brasil ainda possui 2,4 milhões de analfabetos com idade entre 14 e 17 anos, dos quais 2,1 milhões (87%) frequentavam a escola no ano anterior. Esse número revela a realidade de estudantes que não sabem ler e escrever. Os dados são do IBGE (Síntese de Indicadores Sociais). Constata-se também que, entre os jovens de 21 anos, 8% dos negros estão nas universidades, cifra que corresponde a 24% entre os brancos da mesma idade.

B .   S U G E S T Õ E S   D E   A T I V I D A D E S
Diferentes culturas, diferentes linguagens

“O primeiro Censo Demográfico realizado no Brasil, em 1872, contou 10 milhões de habitantes, incluindo escravos e escravas. O analfabetismo estava presente em cerca de 80% da população. Mas isso não significava falta de cultura ou desinformação generalizada: a transmissão pela oralidade atravessava todos os setores sociais e as identidades culturais, mesmo quando não reconhecidas como tais, permitiam estratégias de resistência e sobrevivência.” (p. 6)

• Pesquisar e comparar o índice de analfabetismo entre brancos, negros e índios através da história. É importante destacar que a alfabetização também foi um mecanismo histórico de colonização cultural. Conversar com os alunos que hoje os povos indígenas aprendem a língua portuguesa para melhor lutar pelos seus direitos, além de utilizarem o alfabeto em seus idiomas, para preservar suas culturas e tradições.

• Refletir com os alunos a respeito de motivos que fizeram com que ainda existam pessoas não alfabetizadas em sua comunidade. Converse com os alunos sobre ações voltadas para a alfabetização de jovens e adultos, como, por exemplo, o programa Brasil Alfabetizado, do Governo .

“Os raros adultos que me deram a ler se retraíram diante da grandeza dos livros e me pouparam de perguntas sobre o que é que eu tinha entendido deles. A esses, claro, eu costumava falar de minhas leituras.” (PENNAC, D. Como Um Romance. 3.ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1997. p. 167).

A leitura é o momento em que o leitor se encontra com o texto de forma única, especial. Na sua leitura solitária, ele deve ter liberdade para interpretar de maneira pessoal o que está lendo.

• Pedir para os alunos comentarem o que gostam de conversar e, professor, proponha aos alunos recortar, de revistas e jornais, pequenos trechos de textos de assuntos que eles gostem, avisando-os que, em seguida, serão lidos por eles. Procure também refletir com os alunos a respeito do prazer de ler o que se gosta, estimulandoos para desenvolverem o hábito de buscar assuntos em textos de seus interesses.

• Conhecer a origem das palavras é compreender melhor seu significado. É ainda compreender que a linguagem é algo que está em constante transformação. Ao serJoão Cândido – A Luta pelos Direitos Humanos 15mos informados pelo Almanaque Histórico que, por exemplo, o vocábulo capital vem do latim capital e, que significa cabeça, e que República vem de Res pública (coisa pública), ampliamos nossa compreensão do uso dessas palavras. Identificar outras palavras em dicionário, cuja origem seja interessante conhecer para ampliar a compreensão de seu significado.

• Já a palavra almanaque, de origem árabe (al – manakh), se referia ao lugar onde os beduínos conversavam e trocavam informações sobre o dia-a-dia. No Brasil, em meados do século XIX, passou a ter como significado: publicação com calendário completo e com matérias recreativas e informativas. Propor aos alunos a criação de um almanaque da turma a partir de temas do interesse dos alunos.

Por  dentro  da  História  

“É bem doloroso para um país forte e altivo ter de sujeitar-se às imposições de 700 ou 800 negros e pardos que, senhores dos canhões, ameaçaram a Capital da República.”
(Fanfulla, jornal de São Paulo, em 1910).


No Brasil de antigamente
Vivia-se a lei do cão
O negro pobre não tinha
Direitos de cidadão
Privilégios não teria
Conceito ou cidadania
Liberdade ou posição...

E hoje só recordação
Deste herói negro ficou
Que a lei seca da chibata
Junto à marinha acabou
Os seus feitos e sua história
Todos guardamos em memória
A tua fibra e valor
(Trecho do cordel A Revolta da Chibata, de Jota Rodrigues). (p. 37)

•  Levar ou pedir para que os alunos levem à escola livros, cartas, jornais e revistas para que todos analisem as diferentes formas de texto, o tipo de vocabulário utilizado, a que faixa etária se destinam, bem como os valores e idéias veiculados.

•  Pedir aos alunos que, imaginando-se vivendo no Rio de Janeiro, na época da Revolta da Chibata, escrevam uma carta para um amigo que mora em outra cidade, relatando os últimos acontecimentos.

• Aproveitar a oportunidade para falar também sobre as diferentes maneiras que as pessoas têm de se comunicar. Por exemplo:
As pessoas com necessidades especiais, principalmente as que possuem deficiência auditiva, que se comunicam por meio da Língua de Sinais (LIBRAS).

Você sabia que...

Negrinho do Pastoreio é uma lenda tradicional do Rio Grande do Sul? De origem africana, fala de um estancieiro que mandou castigar seu escravo, um menino, porque havia deixado fugir um de seus cavalos. Após a surra, teve de sair à noite pelos campos para encontrar o animal. Enfrentou a escuridão com um toco de vela e uns pavios de fogo. Retornou para a fazenda sem o animal e, após ser novamente espancado, foi atirado, por ordem do fazendeiro, dentro de um formigueiro. No dia seguinte, para a surpresa de todos, o menino estava bem, vivo e feliz ao lado do animal perdido. Desde então, ficou sendo o “achador de coisas”. Basta fazer o pedido e acender um toquinho de vela para ele.


• Apresentar aos alunos uma foto de uma pintura ou escultura para que eles façam a sua análise. Pedir para os alunos comentarem suas opiniões e percepções. É importante destacar que as percepções e opiniões são individuais e devem ser respeitadas. É importante, também, estimular os alunos a compartilhar suas opiniões, tendo como princípio a garantia da livre expressão.

• Pedir para os alunos escolherem algo que apreciem: uma flor, uma concha, um quadro. Solicitar que observem atentamente e, em seguida, expressem por meio de cores e traços o que sentiram. É importante, também, estimular os alunos a compartilhar suas opiniões, tendo como princípio a garantia da livre expressão.

• A comunicação por meio da música: pedir para que os alunos levem para a aula letras de músicas que gostam. Analisar as letras dessas canções com eles. Do que tratam? Há rimas? Analisar com os alunos se houve, na turma, preferência por algum tema. Verificar que, na página 9 do Almanaque, há uma referência interessante ao chorinho. Destacar a importância da pluralidade musical do nosso país, por exemplo: forró, samba, fandango, catira, carimbó, etc.

Meios de comunicação

Os meios de comunicação sempre tiveram atuação política no Brasil? Isso ocorreu desde os primeiros jornais impressos no País, a partir de 1808 (ano da chegada da Corte portuguesa), como a Gazeta do Rio de Janeiro e o Correio Braziliense (editado em Londres). Os meios de comunicação não são totalmente imparciais e têm a tradição de interferir no destino de todos. Parte da imprensa desempenhou importante papel no processo de Independência, mas outros jornais da época eram contra o movimento. Na Abolição, ocorreu o mesmo: alguns jornais apoiavam a escravidão, outros a combatiam. Nos anos 1830, surgiram pequenos periódicos que discutiam a questão racial, entre eles O Homem de Cor, considerados precursores dos jornais abolicionistas que surgiram meio século depois.


Ao longo do Almanaque Histórico, há diversas referências ao papel da imprensa na formação da opinião pública.

• Propor que a turma se divida em grupos para elaborar um jornal que tenha uma linha favorável e outra desfavorável à Revolta da Chibata, liderada por João Cândido. Para isso, faça com que os alunos analisem inicialmente a composição dos jornais atuais: editorial, artigo, notícia, reportagem, entrevista, charge, quadrinhos, carta do leitor; e, a partir desses elementos, criem seus jornais. Poderão ser incluídas notícias referentes a outros acontecimentos do início do século XX (veja as referências à Reforma Pereira Passos, na página 16 do Almanaque Histórico).

• Fazer um levantamento com os alunos de seus sonhos de consumo. Em que medida a propaganda (em tevê, revistas, jornais, rádio) influencia e define esses sonhos de consumo?

• Combinar com os alunos que têm acesso à tevê de, no mesmo dia, observarem os diferentes programas (novela, intervalo comercial, noticiário ou desenho animado), procurando refletir sobre: como os meios de comunicação tratam a questão da diversidade humana (gênero, etnia, deficiência física, etc.)? Todos são apresentados da mesma forma? E as crianças e jovens, como são apresentados? Como os negros, os deficientes físicos, crianças e jovens são apresentados? Refletir com os alunos sobre suas percepções acerca da existência de pluralidade ou não da diversidade na tevê.

• O Almanaque Histórico nos conta que, em diversas ocasiões, jornalistas, artistas e escritores foram censurados quando se referiram a João Cândido e à Revolta da Chibata. Analisar com os alunos os momentos políticos em que a censura esteve mais acentuada no Brasil.

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